terça-feira, 21 de junho de 2011

Os anos dourados que não acabam

Quando vieram a público as primeiras suspeitas sobre um caso que, na altura, parecia vir a ter o mesmo desfecho da montanha de outros semelhantes que ao longo do tempo elementos ligados ao futebol procuraram deslindar, achei-as parcas de substância e objectividade. Falo, claro, do princípio, da antecâmara do “Apito Dourado”, processo que hoje é conhecido de todos, nacional e internacionalmente, mas que na época em que começou a ser paulatinamente desvendado sofria, como tantos outros, da pouca clarividência tanto dos que acusavam como das provas que estes prometiam ter em sua posse. Foi, nesse sentido, algo a que dei a importância que o assunto, conhecido de muitos há muito tempo, em especial de quem trabalhava (e trabalha) na área, me merecia na época dos acontecimentos: uma relativa e resignada importância.
O certo é que o processo ganhou vida, soube construir os seus alicerces e hoje, passados alguns anos, sabemos que se não foi mais incisivo e letal para os visados deveu-se apenas esse facto à incongruência da Justiça portuguesa – completa de equívocos e caminhos duvidosos – e à influência extrema que têm sobre os agentes que a deviam praticar de modo independente todos os que da falta dela beneficiam. Não falo apenas dos “tubarões”, bem identificados e hoje conhecidos por todos: falo de uma rede de influências que se consubstancia desde as divisões secundárias do nosso futebol, trepando pelas divisões intermediárias até à nata do desporto em Portugal, e que é só, apesar de lidar em “upgrade” em relação aos outros, o final desta pirâmide de corrupção.
Confesso que me surpreendeu, ainda assim, a força que o processo atingiu. Por conhecer profundamente a dificuldade em levar os visados à “barra de tribunal” e porque falta a este país desportivo a coragem, a audácia, o despojamento de pessoas que, atentando contra a liberdade individual, saibam ser exemplos nos seus postos de trabalho. Não espanta, nem pode espantar ninguém que siga o futebol português, que tenham chovido epítetos sobre Ricardo Costa (e sua equipa, ressalve-se de forma a todos os níveis justa) e Hermínio Loureiro. O país desportivo não estava preparado para tamanha afronta aos poderes instalados. E, de facto, ele, o regime dos papalvos, de tudo fez para que se eliminassem estas pessoas, finalizado o processo e “absolvidos” os criminosos. Digo absolvidos, bem entendido, porque, embora o caso tenha vindo a público, na verdade os crimes foram lidos e julgados como se de material infantil se tratasse, inocentando uns e a outros dando punições que os fizeram mais fortes e conhecedores de que, sendo alvo de crítica, são acima de tudo personagens inimputáveis no universo desportivo em Portugal.
Questiono-me se não terá sido a única verdadeira oportunidade de deixar cair os que deliberadamente sujam o nosso futebol e não chego a conclusões definitivas nunca. Se penso existirem caminhos propícios a uma maior clarificação dos que há décadas exercem os seus poderes – preferencialmente por uma nova geração de agentes, mais aptos a desconstruir este emaranhado de proféticas vigarices -, também não deixo de saber e viver na pele (mesmo estas que aqui vivi, por este blogue) as agruras do conhecimento que tenho sobre ser esta uma máquina demasiadamente bem oleada para que um qualquer bom samaritano deixe nelas as marcas de uma justiça que dramaticamente se exige.
Em termos claros: os julgados no processo “Apito Dourado” foram julgados de circunstância. Serviu este para pôr mais transparente quem são os agentes responsáveis pelo estado empobrecido e putrefacto em que se encontra o nosso futebol mas, por outro lado, “ilibou-os”, talvez a termo definitivo, de qualquer outro julgamento mais severo. É tanta a teia que encobre e defende os interesses destas pessoas que, de um momento para o outro, damo-nos conta de que mais facilmente acabaremos nós, os que questionam, acusam e clarificam, na cela de uma Justiça que não existe.
Alguns comentaristas deste blogue (que segui, tanto quando pude, atentamente) acusam-me de dar dados incompletos. A esses respondo com a inevitabilidade daquilo que posso: a mais, se o quisesse, e quero, não tenho direito. Outros questionaram-me sobre as razões de tão longo período de silêncio. A esses devo dizer que compreendo as dores e as dúvidas mas, tal como provavelmente já esperariam, não posso dar as informações que quero porque o sistema, tal qual está construído, me impede de informar e divulgar o organigrama de que é feita a (in)justiça em Portugal. Deixo, no entanto, uma janela aberta: foi-me imposta uma cultura da tirania. E isto por ter escrito o pouco que escrevi: dois ou três textos imberbes sobre o futebol português. Tanto, mas tanto mais, haveria a dizer e escrever. E haverá. Porque não morrem aqui os meus intentos.
Gostaria, porém, de deixar um conselho a todos os que seguem o que escrevo e compartilham a ideia geral de que este futebol português tem de morrer para que renasça outro, mais digno, mais justo, mais de acordo com a verdade e liberdade que todos exigimos no desporto e na competição, seja ela qual for: informem-se, divulguem o que sabem (com provas), questionem, não adormeçam sob o céu nebuloso das vozes edificadas de princípios morais desadequados e atentatórios da justeza individual e colectiva. Duvidem, perscrutem-se, estejam atentos. É também por vós, adeptos de futebol, seja de qual clube forem, que a mudança/revolução poderá ser construída e assimilada.
Lamento se a expectativa que todos tinham para este texto não preencheu totalmente as esperanças dos que aqui vêm todos os dias em busca de mais informação. Compreendam que, antes, tinha de vos explicar os mecanismos existentes e as dúvidas em que eu próprio nado sobre o que devo ou não dizer. Mas prometo-vos mais informação a partir daqui. E todos, todos, estão convidados a participar activamente. Seja na caixa de comentários, seja no correio electrónico que está sempre disponível.


Uma nota final ao comentador “Duarte”: todas as dúvidas que tiver, pode esclarecê-las directamente comigo. A defesa que faz dos dirigentes do seu clube, embora entendendo a dificuldade que é aceitar os factos, é a todos os títulos prejudicial não só ao futebol português como a si próprio, porque vive numa ilusão. Esta nota não serve só para o Duarte, serve para adeptos de todos os clubes, inclusivamente do meu, embora – não sejamos hipócritas – o clube do Duarte, entre os grandes do futebol português, tenha as mais aberrantes e prejudiciais figuras à verdade desportiva que se pede, anseia e exige.

domingo, 12 de junho de 2011

Regresso

Por razões que provavelmente já todos esperavam, fui impedido - de forma indirecta e suja - de poder continuar o projecto a que me dediquei há uns meses atrás.
Finalmente resolvidos todos os obstáculos e protocolos, voltarei esta semana.
A todos, as minhas desculpas por este largo período de silêncio. E obrigado por terem mantido o desejo de ler mais sobre um assunto que todos os dias se agudiza de forma irremediável.

Compete-nos lutarmos contra ele. O polvo está vivo e bem vivo.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

No calor das leis

Na era de um A. como Director Executivo da Liga de Clubes - posição que rendeu, pelas leis que deixou muito convenientemente aprovadas, ao clube do próprio uma crucial absolvição (em termos claros: a não descida de divisão) anos mais tarde, no famoso "Apito Dourado" - as coisas faziam-se, de facto, "por outro lado". Desconheço a que outro lado se referia Luís Filipe Vieira numa das escutas que vieram a público, mas conheço bem o outro lado de A. e de toda a estrutura que o sustentava e que ele próprio servia.
A estratégia para o sucesso não passava apenas pelo aliciamento de árbitros - essa era a face mais óbvia, feita, arrisco dizer, à descarada, tais eram as sórdidas situações passadas em certos estabelecimentos em que a noite era de facto muito quente. Mas havia outros agentes e outras fórmulas: não bastando os cheques entregues nas mãos dos árbitros em plenas mesas de "privados" com as meninas presentes (algumas das quais dando-me disso conta anos mais tarde), era também importante levar as meninas a outros universos, mais elitistas e para gente de maior quilate no futebol luso.
Falamos, para que não restem dúvidas, de aliciamento a directores, presidentes e inclusivamente treinadores de equipas adversárias. Tudo com o aval do púdico, civilizado e muito indignado em programas de televisão, o Sr. A., esse mesmo que patrocinou as leis que permitiram ao seu clube manter-se na prova máxima do futebol nacional, mesmo que as provas, e se eram conclusivas!, o fizessem advinhar.
O Sr. A. gozava de um estatuto tal, de um respeito, de uma admiração por parte do dirigismo em Portugal que qualquer conversa, qualquer menina, qualquer insinuação mais ou menos velada, eram tidos como normais e próprios de um futebol em que as coisas eram assim porque eram e não valia a pena discutir princípios. Esse próprio Sr. A anos mais tarde veio dizer, do alto da sua dignidade, que não gostaria de ver ninguém atirar pedras porque no futebol devia haver pouca gente que o possa fazer porque há muitos telhados de vidro - estraordinárias declarações, assumindo nós que o Sr. A assumia a generalização como forma de se absolver das suas próprias pedras.
O que o Sr. A não disse - e não dirá seguramente no futuro - é que ele foi um dos mais importantes tentáculos do polvo, controlando dirigentes, impondo leis na Liga, avançando na diáspora portuguesa pela UEFA, sempre de falinhas mansas e discurso recheado de hipocrisia, passando entre os fios de chuva, tanto que hoje, e há vários anos, vemo-lo sentado em televisões nacionais, debitando alarvidades com um ar de quem não faz mal um rato.
Encontravam-se em hotéis estes rapazolas. O Sr. A, mais na sombra, o Sr. G - que hoje, muito de forma curiosa, é, imaginem as voltas que a vida dá, prospector de futebol no Benfica! - para quem o FCP é uma "religião" e os vários dirigentes dos clubes da primeira divisão da altura. Eram jantares e encontros de circunstância, dizia a versão oficial, era apenas camaradagem e relaxamento. O que as versões oficiais nunca explicaram foi a aparição constante de meninas vindas dos estabelecimentos do Sr. RT para os quartos de dirigentes, treinadores e presidentes de vários clubes que nos dias posteriores iriam jogar contra o clube dos Srs. A., G e RT. Mas certamente faria tudo parte de um maior relaxamento. Uma verdadeira comissão de boas-vindas.
É apreciavelmente didáctico rever jogos antigos, especialmente dessa década de 90, era do famoso penta do Engenheiro. Observar as equipas adversárias, especialmente no Estádio dos Srs. A., G e RT, a forma quase pueril com que jogavam, verdadeiras passadeiras vermelhas para os jogadores do clube desses senhores, é um exercício de memória que devemos agradecer à RTP. É verdadeiro serviço público. Depois, quando apesar de meninas, copos, prémios e jantaradas, a coisa não resultava e os jogadores visitantes mostravam brio profissional, lá aparecia então o resultado dos cheques às classes mais baixas em "privados" e os homens de negro resolviam os pentas. O Engenheiro, benfiquista dos sete costados, agradece.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Para depois o que não pode agora

Peço desculpa aos que têm pedido insistentemente novas do polvo, o trabalho tem sido muito e a vontade - depois de muita contra-informação e maledicência - tem sido pouca. Amanhã postarei um texto sobre os princípios dos anos 90, envolvendo meninas da noite, Teles, Aguiares, Ribeiros e quejandos - todos eles muito dignos em frente às câmaras e muito pouco sempre que elas se desligam.
Entretanto, Pinto da Costa revoluciona todo o sistema do putedo com o anúncio, em privado, de que vai elevar a outro patamar o namoro. Espera-se só que, à semelhança do anterior, este acabe mal e nos dê mais elementos de investigação. Nada como uma boa puta brasileira para trazer tudo ao de cima, até um impotente.

sábado, 26 de março de 2011

Um caos chamado Sporting

Na sequência do post anterior, entre elogios e críticas no blogue, interessa-me esclarecer não o que se passou em termos públicos - caixa de comentários - mas o que verdadeiramente ocorreu em termos privados - caixa do correrio electrónico.
Como escrevi no texto, estavam os interessados, especialmente os sportinguistas, convidados a interpelarem-me em foro privado para que eu esclarecesse o que, em meias verdades, escrevi no post. Muitos o fizeram. Alguns, bastantes, de forma honesta, educada, e penso que para todos eles fui elucidativo sobre as suas dúvidas, respondendo-lhes e discutindo o tema proposto.
Para outros, poucos, não esclareci as dúvidas que tinham apenas e só pela forma como se dirigiram a mim, mostrando-se mal-educados e críticos sem que lhes tivesse dado razão para tal.
Houve, no entanto, um terceiro grupo de pessoas e é sobre este que quero falar. Pelos vistos, a guerra interna no Sporting é tal que em pleno período de campanha eleitoral tudo vale, mesmo tirar olhos. Mascarando-se de leitores interessados no tema, recebi de alguns mensagens desprovidas de qualquer sentido lógico, acusando-me de estar a fazer campanha por uma das listas. Razão? O meu post anterior. Escreveram esses iluminados que as insinuações que deixei atrás compunham um claro gesto de campanha provocatório contra um dos candidatos.
O mais extraordinário deste argumento é o facto de que assumiram as culpas sem que eu alguma vez tivesse referido quem seria o tal candidato. Isto, sim, é síndrome psiquiátrica e talvez, no limite, explique bem a "culpa" que alguns verdadeiramente sentem e ajuda a corroborar todos os indícios que recolhi sobre a referida candidatura.
Quero esclarecer não esses elementos mal-formados mas os leitores deste blogue que não tenho qualquer interesse nesta campanha, nesse aspecto sou apenas um adepto (e sócio) do clube que, tendo em mãos informação privilegiada sobre um dos candidatos, me limitei a dar disso conta aos leitores, especificamente aos mais interessados, os sportinguistas.
Aos que me abordaram civilizadamente, penso que cumpri da melhor forma aquilo que prometi - estão à vontade os que comigo debateram no caixa de correio para se identificarem e admitirem este aspecto, já que há no Sporting quem me acuse de estar a fazer demagogia barata.
Isto dito, aproveito, em vésperas de sabermos quem será o futuro Presidente do Sporting, para admitir a minha intenção de voto: será nulo ou em Abrantes Mendes, apesar de lhe reconhecer deficiências ao nível das ideias para o clube; por esse facto, a minha dúvida. Nenhum outro me parece digno de poder representar de forma competente e séria esta enorme Instituição chamada Sporting Clube de Portugal.


Nota final: aos que tão diligentemente planearam uma equipa de mensageiros para que descobrissem as verdades que sabia e que, de forma tão baixa, se apressaram a coligar-me a outras candidaturas, aconselharia a juntarem todo esse esforço e dedicação a causas mais justas e menos inúteis. Mas talvez o fundamental para essas pessoas não passe por defender o clube mas sim os próprios interesses. É pena, porque serão os sportinguistas os mais prejudicados e os que pagarão a factura de não terem gente competente a liderar os destinos do clube.

quinta-feira, 24 de março de 2011

As eleições e o elemento imponderável

Tenho vivido muito intensamente as eleições no Sporting. Como adepto e como jornalista. Procuro, no entanto, até para me poder vir a sentir de consciência tranquila como adepto no futuro, agir sempre como jornalista, procurando saber até que ponto as informações dadas pelos candidatos correspondem à realidade.
Permitam-me antes um desvario e um desvio ao tema crucial deste espaço (ou não). Deixem-me de forma simples dizer-vos que estas eleições têm sido do ponto de vista da obrigatoriedade do debate um conjunto inútil de banalidades. A falta de profundidade tem sido tão evidente que temo pelo futuro do Clube enquanto instituição ganhadora - mas só nesse aspecto; desenganem-se aqueles que acham que o Sporting como grande clube que é irá desaparecer. Basta ao Sporting uma liderança forte, séria, qualificada, com uma visão e estratégia adequadas à realidade e não à visão utópica que uns terão imaginado para o clube.
Deixem-me dizer-vos também - e não pretendo influenciar ninguém mas não ficaria bem com a minha consciência se não transmitisse esta informação - que há um candidato com o qual os sportinguistas deverão ter muito cuidado. Toda a sua candidatura se baseia numa inverdade, numa falsa ideia de segurança que não existe. Reflictam apaixonadamente, observem bem todos os candidatos, não tomem como certos à corrida nenhum deles, dêem - porque merecem - a todos a mesma hipótese de virem a ser o próximo Presidente do Sporting Clube de Portugal. Estejam atentos. Numa altura em que a prestação desportiva é insuficiente, em que os adeptos procuram soluções milagrosas, em que em tudo se acredita e em tudo se jogam todas as fichas, é precisamente nesse momento que podem aparecer os detractores. Alerta, sportinguistas.
Não abro de forma clara a informação que tenho porque (i) não quero influenciar publicamente as eleições (mesmo que a uma pequena escala) e (ii) cada um terá o direito de pensar e reflectir pela sua cabeça. Deixo, no entanto, o correio electrónico à vossa disposição se quiserem aprofundar o tema.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma revolução inteligente

Num período conturbado da vida portuguesa, seja a nível governativo seja a nível desportivo, em que infelizmente vemos facções a serem criadas, dividindo e gerando distúrbios entre as pessoas, penso ser da mais elementar importância o esclarecimento sobre as razões da criação deste blogue e da imagem e ideologia algo revolucionárias.
A revolução que defendo e que procuro fomentar nos que me lêem está nos antípodas da que lentamente vem crescendo no futebol português através da violência gratuita, do insulto, da demagogia, do cinismo e da falta de princípios. Não pretendo de forma alguma instigar os meus leitores a enveredarem por uma ideologia de guerrilha física ou violência verbal. Pelo contrário. Procuro informar no sentido de todos terem nas mãos mais dados que lhes permitam analisar, reflectir e agir sobre o futebol português de uma forma urbana e civilizada. Mas agressiva (no bom sentido) e enérgica.
O histórico das sociedades revela-nos que o pior inimigo das massas é a ignorância e a consequente deficiência na visão da realidade. Com maior conhecimento de causa, as pessoas tendem a uma melhor compreensão dos fenómenos, a uma mais assertiva identificação dos problemas e a uma maior probabilidade de lutarem por aquilo em que acreditam. É com esse intuito que procuro informar, não para que se gerem sentimentos vingativos e/ou belicistas.
Quero, queremos, uma mudança no paradigma do futebol nacional. Uma limpeza de hábitos pouco recomendáveis, ilegais, que afrontam o estado de direito e a verdade na competição que a todos apaixona. Saibamos, portanto, evoluir com o conhecimento que temos, com a nossa inteligência, com a nossa lucidez, com o nosso amor ao desporto, e potenciar a queda dos que nele vêem uma ponte para o sucesso a todo o custo e para a mentira competitiva que se repete, perpetua e eterniza há já demasiadas décadas.
Para este objectivo, conto convosco, com as vossas informações, com registos que possuam, com opiniões fundamentadas, sustentadas em dados que me permitam elaborar textos ou inclusivamente passar na íntegra neste blogue os vossos elementos de investigação. O "O polvo dos papalvos" não pretende ser apenas um meio para eu difundir conhecimentos sobre o mundo futebolístico nacional. A eles juntar-se-ão, se houver elementos credíveis, colaborações vossas, no sentido de divulgarmos ao limite máximo que pudermos a podridão em que estão instalados os dados deste jogo viciado.
E todos ganharemos com isso. Sejamos adeptos de que clube formos, penso que será consensual que um futebol limpo de promiscuidades e corrupção, em que a competição é feita e ganha pelo mérito desportivo e não por jogadas de bastidores, será melhor para todos e dará mais prazer a todos os que amam este fantástico desporto.
Aproveito até para chamar à discussão colegas meus, gente que queira contribuir com o seu conhecimento, com o seu historial de proximidade com os dirigentes e protagonistas principais do futebol nacional, mesmo que anonimamente, como eu o faço - aproveito para alertar, especialmente ao Joseph Lemos e ao Manuel, mas para todos que queiram divulgar o seu material, que podem enviar-me as informações para o correio electrónico. Certamente não seremos nunca demasiados nesta revolução pela justiça e limpeza desportivas. Proponho inclusivamente que, impulsionados com a ideia de criar este blogue e que não é inovadora (outros houve que existiram e que, estranhamente, desapareceram da blogosfera), os colegas criem outros blogues na mesma linha para que a reflexão seja mais aprofundada e analisada de várias perspectivas e vozes.
O futebol português necessita de uma mudança séria alicerçada no repúdio e conhecimento do passado. De uma discussão séria da actualidade e de um historial de memórias, que nos permita encontrar um rumo esclarecido que fuja daquele com que temos tido de conviver. É esse objectivo que proponho aos que aqui queiram vir.
De momento, deixei a caixa de comentários aberta a todos, na vontade de que as pessoas confrontem perspectivas e argumentem da melhor forma que saibam sobre as suas convicções. Espero poder mantê-lo no futuro. Se o "ruído" for demasiado, fecharei a porta aos "anónimos". Bem sei que, mesmo tendo um nome, se podem dizer muitos disparates. Mas pelo menos nesse caso poderemos identificar um historial de disparates. O que já não será totalmente gratuito.
Agradeço uma vez mais a todos os que acreditam num futebol verdadeiro e peço que se juntem a mim nesta luta. Sem armas, sem pedras, sem fogo, sem violência. Com a força da memória, com a força das nossas convicções, com a força da nossa índole, da nossa educação, do nosso amor. Vencê-los-emos com a verdade.
No dia posterior à morte de Artur Agostinho, homem extraordinário que conheci de perto, não sendo seu amigo íntimo, o mínimo que podemos fazer é homenageá-lo com a nossa luta.

terça-feira, 22 de março de 2011

O doping, o túnel e a intimidação

Na ressaca da noite de Viena, após a mítica conquista para o futebol português por parte do Futebol Clube do Porto, em plena pré-época 1987/1988, começou a levantar-se entre os meios ligados ao futebol - entre os jornalistas, especialmente - uma onda de boatos sobre a anormal (excelente) condição física dos portistas. Começou por ser o que parecia apenas uma brincadeira, uma desculpa esfarrapada dos nossos colegas alemães a fim de justificarem a derrota que o poderoso Bayern tinha sofrido uns meses antes para rapidamente se tornar um alvo de investigação que acabou, na perspectiva dos jornalistas alemães, em conclusivas certezas.
Estávamos em meados de Agosto de 1987 quando, deparados com essa suspeita por parte de colegas estrangeiros, eu e mais três jornalistas portugueses decidimos, um pouco incrédulos, averiguar se havia algo de verdadeiro nas suspeitas levantadas. Não seria fácil, como é evidente, descobrir a verdade, se ela existisse. Por isso reunimos um dia num café na baixa portuense com o intuito de elaborarmos um plano de pesquisa que, no limite, nos permitisse chegar próximo de alguma informação, caso se verificassem como verdadeiras as suspeitas que os colegas estrangeiros haviam levantado. Em traços gerais, o plano era este: contactar vários antigos jogadores que teriam passado pelas mãos do médico do clube na altura, o Dr. Domingos Gomes; informarmo-nos de forma substancial sobre a capacidade efectiva de poder haver uma "mezinha" que realmente melhorasse a performance desportiva (lembro, a este propósito, que há 24 anos as questões do doping eram ainda muito dúbias e pouco esclarecedoras) e procurarmos, junto de pessoas ligadas aos vários jogadores que compunham o plantel portista dessa época, de uma forma natural (para que não fosse suspeito), saber que tipo de atletas eram esses mesmos jogadores 2, 3, 5 anos antes.
A matéria de investigação surtiu alguns efeitos interessantes - entre os quais termos descoberto que, de facto, houve, em sintonia com um tal Póvoas (hoje, um cidadão muito respeitado mas que, na época, não passava de um sujeito com reputação bastante duvidosa, envolvido em trafulhices relacionadas com propaganda médica), um conjunto de atletas que melhoraram substancialmente o seu desempenho atlético, alguns de forma quase sobrenatural, para aquelas que eram as suas características naturais. Como é óbvio, isto não chegava para fazermos um diagnóstico totalmente efectivo e muito menos para avançarmos a informação para o exterior. Nesse sentido, decidimos deixar um de nós, que vivia em Gaia, mais virado para esse assunto, enquanto os outros, que vivíamos em Lisboa, íamos acompanhando de longe e pontualmente a investigação. Entretanto esse meu colega continuava o seu normal trabalho de jornalista, acompanhando várias vezes o Porto no Estádio das Antas.
Numa delas, num Porto-Portimonense, já no final da partida, após a reportagem para uma rádio nacional, o meu colega, que estava no relvado junto à saída (o famoso túnel), foi interceptado por 3 indivíduos que faziam parte do chamado "Corpo de Segurança Privado", que mais não era do que um grupo de jagunços comandados pelo famoso Guarda Abel, e forçado a largar o seu material de trabalho, para que tivessem uma "conversinha". A conversinha foi, em termos básicos, darem-lhe uma chapada e obrigarem-no a nunca mais fazer perguntas a familiares e amigos dos jogadores, sob pena de poder vir a "acabar mal". O meu colega deu conta deste episódio à sua entidade patronal (que lhe respondeu, clara e simplesmente, que abdicasse do assunto), persistiu ainda uns tempos na investigação até que viu uma das filhas agredidas numa escola em Gaia onde era estudante, avisada a dizer ao Pai que da próxima ia parar ao cemitério.
Como é evidente, a partir desse dia dedicou-se a outras investigações mais, digamos, singelas.

É também assim, pela ameaça, pela violência, pela falta de escrúpulos, que o sistema sobrevive e evita que haja uma real investigação jornalística neste país. É também por isto, mas por muitas outras coisas, que nunca se criaram condições para que a verdade viesse ao de cima. O clima intimidatório, bélico e ameaçador, juntamente com a indiferença/submissão das autoridades locais foi e é uma das formas que o polvo encontrou para se perpetuar impunemente.

O (velho) apedrejamento

Mais lá para a tarde porei aqui um episódio do final dos anos 80, que é de ir às lágrimas - se não fosse deprimente.

Deixem-me, entretanto, abordar um tema da actualidade: o apedrejamento que ocorreu na noite de ontem ao autocarro do Benfica e ao carro onde se encontrava Luis Filipe Vieira.

Não é nada de novo. Já foi feito. Mais do que possam pensar. A diferença é que hoje em dia a Comunicação Social tem acesso directo, na hora, aos acontecimentos; há 20 anos, muitas coisas eram abafadas, directa ou indirectamente. Mas aconteceram. Assim e pior, muito pior.
O que eu vos quero dizer é muito simples: o objectivo é forçar os adeptos do Benfica ou os seus dirigentes a uma atitude menos precavida que culmine ou numa tragédia de grandes proporções ou num episódio que permita à Direcção da Liga uma plausível justificação para que o Estádio da Luz seja interditado.
Pelo que vou sentindo na opinião pública benfiquista, não tenho dúvidas nenhumas de que as pessoas começam a ferver e um dia irão explodir. Não querendo ser moralista nem pai de ninguém aconselharia apenas os adeptos do Benfica a não enveredar pelo caminho mais fácil. Porque além de correrem o risco de magoar alguém inocente que nada tem a ver com a luta de galos entre os dois clubes podem de facto acabar forçados a não verem o seu clube no próprio estádio.
Por aquilo que recolhi, à Liga só falta a justificação. Seja ela trágica ou de circunstância.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Quem sou

Apresento-me: tenho, além de outras coisas, 40 anos de jornalismo desportivo em cima, muitos dos quais dedicados a assuntos que extravasaram em muito a reles e entediante análise futebolística a que estamos habituados. Fui aprendiz de feiticeiros, chefe de uns, subalterno de outros, assisti a muita coisa, vi, cheirei, repudiei muita outra e, nos juízos finais, quis sempre poder dizer mais do que me deixaram.
Ao longo destas 4 décadas de serviço profissional, prezei sempre o contacto directo com os meus leitores, ouvi muitas críticas, ouvi muitos elogios e, ao fim deste tempo todo, e já há algum tempo, o que me pedem é que fale, que diga o que sei. Por razões puramente profissionais, não pude nunca apontar directamente o dedo àqueles que mancharam - e mancham - a verdade e a justiça do futebol em Portugal. Sofri ameaças, promessas de despedimento, insultos e fui passando pelo jornalismo desportivo como pude, procurando ser fiel aos meus princípios e à conduta profissional que sempre respeitei e quis cumprir. Mas nem sempre pude. Por razões que se prendem com factos tão simples quanto os de querer chegar ao final do dia e poder alimentar-me, alimentar os meus filhos e não acabar a boiar num rio qualquer. Sim, é assim perigoso, desafiar as leis do polvo futeboleiro português.
Não é história, ou estória, contada por mentirosos. O futebol em Portugal está - acreditem - corrompido por uma força poderosa a que ninguém tem a coragem de olhar nos olhos e enfrentar seriamente. Muitos refugiam-se em insinuações mais ou menos evidentes, muitos queixam-se do conteúdo mas usam formas que não beliscam os alvos nem informam os leitores do que verdadeiramente se passa desde que Jorge Nuno Pinto da Costa chegou um dia ao poder. Nada, nem ninguém, foi igual no nosso futebol desde esse fatídico dia. Tenho amigos que, no cumprimento das suas funções jornalísticas, foram insultados (como eu), foram humilhados (como eu) e foram, ao contrário de mim, violentados e agredidos apenas e só porque se dedicaram ao seu labor. Isto acontece há 30 anos no futebol em Portugal.
Quis sempre muito mas não pude. E foi esse peso na consciência (porque acredito que todos devem saber a realidade) que me fez andar a vaguear na ideia de encontrar um espaço em que, anonimamente, desse lugar às palavras e às histórias reais que se passaram comigo e com colegas meus ao longo destas décadas.
Não sou hipócrita, como muitos que dizem não ter clube. Eu sou um apaixonado pelo desporto, pelo futebol em particular, e como tal tenho a minha preferência clubística. Sou do Sporting, sempre fui do Sporting. Desde muito novo porque o meu Pai, sportinguista doente, me transmitiu essa paixão e eu segui-a, sem nunca ferir as minhas obrigações como jornalista. Espero que o facto de admitir o meu clube sirva não para me julgarem sob esse foco mas pelo contrário para verem na assumpção um caminho facilitador contra demagogias e falsas pretensões.
Estou aqui para informar. Escreverei sobre o polvo (que tem muitos, alguns inimagináveis, tentáculos) e o mal a que tem votado o nosso futebol. Um polvo criado por papalvos, ignorantes, mesquinhos, donos de uma falta de civilidade a todos os níveis abominável que lhes permite viver na completa impunidade, subjugando e martirizando quem procura denunciá-los.
Sejam todos bem-vindos ao O Polvo dos papalvos.