terça-feira, 21 de junho de 2011

Os anos dourados que não acabam

Quando vieram a público as primeiras suspeitas sobre um caso que, na altura, parecia vir a ter o mesmo desfecho da montanha de outros semelhantes que ao longo do tempo elementos ligados ao futebol procuraram deslindar, achei-as parcas de substância e objectividade. Falo, claro, do princípio, da antecâmara do “Apito Dourado”, processo que hoje é conhecido de todos, nacional e internacionalmente, mas que na época em que começou a ser paulatinamente desvendado sofria, como tantos outros, da pouca clarividência tanto dos que acusavam como das provas que estes prometiam ter em sua posse. Foi, nesse sentido, algo a que dei a importância que o assunto, conhecido de muitos há muito tempo, em especial de quem trabalhava (e trabalha) na área, me merecia na época dos acontecimentos: uma relativa e resignada importância.
O certo é que o processo ganhou vida, soube construir os seus alicerces e hoje, passados alguns anos, sabemos que se não foi mais incisivo e letal para os visados deveu-se apenas esse facto à incongruência da Justiça portuguesa – completa de equívocos e caminhos duvidosos – e à influência extrema que têm sobre os agentes que a deviam praticar de modo independente todos os que da falta dela beneficiam. Não falo apenas dos “tubarões”, bem identificados e hoje conhecidos por todos: falo de uma rede de influências que se consubstancia desde as divisões secundárias do nosso futebol, trepando pelas divisões intermediárias até à nata do desporto em Portugal, e que é só, apesar de lidar em “upgrade” em relação aos outros, o final desta pirâmide de corrupção.
Confesso que me surpreendeu, ainda assim, a força que o processo atingiu. Por conhecer profundamente a dificuldade em levar os visados à “barra de tribunal” e porque falta a este país desportivo a coragem, a audácia, o despojamento de pessoas que, atentando contra a liberdade individual, saibam ser exemplos nos seus postos de trabalho. Não espanta, nem pode espantar ninguém que siga o futebol português, que tenham chovido epítetos sobre Ricardo Costa (e sua equipa, ressalve-se de forma a todos os níveis justa) e Hermínio Loureiro. O país desportivo não estava preparado para tamanha afronta aos poderes instalados. E, de facto, ele, o regime dos papalvos, de tudo fez para que se eliminassem estas pessoas, finalizado o processo e “absolvidos” os criminosos. Digo absolvidos, bem entendido, porque, embora o caso tenha vindo a público, na verdade os crimes foram lidos e julgados como se de material infantil se tratasse, inocentando uns e a outros dando punições que os fizeram mais fortes e conhecedores de que, sendo alvo de crítica, são acima de tudo personagens inimputáveis no universo desportivo em Portugal.
Questiono-me se não terá sido a única verdadeira oportunidade de deixar cair os que deliberadamente sujam o nosso futebol e não chego a conclusões definitivas nunca. Se penso existirem caminhos propícios a uma maior clarificação dos que há décadas exercem os seus poderes – preferencialmente por uma nova geração de agentes, mais aptos a desconstruir este emaranhado de proféticas vigarices -, também não deixo de saber e viver na pele (mesmo estas que aqui vivi, por este blogue) as agruras do conhecimento que tenho sobre ser esta uma máquina demasiadamente bem oleada para que um qualquer bom samaritano deixe nelas as marcas de uma justiça que dramaticamente se exige.
Em termos claros: os julgados no processo “Apito Dourado” foram julgados de circunstância. Serviu este para pôr mais transparente quem são os agentes responsáveis pelo estado empobrecido e putrefacto em que se encontra o nosso futebol mas, por outro lado, “ilibou-os”, talvez a termo definitivo, de qualquer outro julgamento mais severo. É tanta a teia que encobre e defende os interesses destas pessoas que, de um momento para o outro, damo-nos conta de que mais facilmente acabaremos nós, os que questionam, acusam e clarificam, na cela de uma Justiça que não existe.
Alguns comentaristas deste blogue (que segui, tanto quando pude, atentamente) acusam-me de dar dados incompletos. A esses respondo com a inevitabilidade daquilo que posso: a mais, se o quisesse, e quero, não tenho direito. Outros questionaram-me sobre as razões de tão longo período de silêncio. A esses devo dizer que compreendo as dores e as dúvidas mas, tal como provavelmente já esperariam, não posso dar as informações que quero porque o sistema, tal qual está construído, me impede de informar e divulgar o organigrama de que é feita a (in)justiça em Portugal. Deixo, no entanto, uma janela aberta: foi-me imposta uma cultura da tirania. E isto por ter escrito o pouco que escrevi: dois ou três textos imberbes sobre o futebol português. Tanto, mas tanto mais, haveria a dizer e escrever. E haverá. Porque não morrem aqui os meus intentos.
Gostaria, porém, de deixar um conselho a todos os que seguem o que escrevo e compartilham a ideia geral de que este futebol português tem de morrer para que renasça outro, mais digno, mais justo, mais de acordo com a verdade e liberdade que todos exigimos no desporto e na competição, seja ela qual for: informem-se, divulguem o que sabem (com provas), questionem, não adormeçam sob o céu nebuloso das vozes edificadas de princípios morais desadequados e atentatórios da justeza individual e colectiva. Duvidem, perscrutem-se, estejam atentos. É também por vós, adeptos de futebol, seja de qual clube forem, que a mudança/revolução poderá ser construída e assimilada.
Lamento se a expectativa que todos tinham para este texto não preencheu totalmente as esperanças dos que aqui vêm todos os dias em busca de mais informação. Compreendam que, antes, tinha de vos explicar os mecanismos existentes e as dúvidas em que eu próprio nado sobre o que devo ou não dizer. Mas prometo-vos mais informação a partir daqui. E todos, todos, estão convidados a participar activamente. Seja na caixa de comentários, seja no correio electrónico que está sempre disponível.


Uma nota final ao comentador “Duarte”: todas as dúvidas que tiver, pode esclarecê-las directamente comigo. A defesa que faz dos dirigentes do seu clube, embora entendendo a dificuldade que é aceitar os factos, é a todos os títulos prejudicial não só ao futebol português como a si próprio, porque vive numa ilusão. Esta nota não serve só para o Duarte, serve para adeptos de todos os clubes, inclusivamente do meu, embora – não sejamos hipócritas – o clube do Duarte, entre os grandes do futebol português, tenha as mais aberrantes e prejudiciais figuras à verdade desportiva que se pede, anseia e exige.

domingo, 12 de junho de 2011

Regresso

Por razões que provavelmente já todos esperavam, fui impedido - de forma indirecta e suja - de poder continuar o projecto a que me dediquei há uns meses atrás.
Finalmente resolvidos todos os obstáculos e protocolos, voltarei esta semana.
A todos, as minhas desculpas por este largo período de silêncio. E obrigado por terem mantido o desejo de ler mais sobre um assunto que todos os dias se agudiza de forma irremediável.

Compete-nos lutarmos contra ele. O polvo está vivo e bem vivo.